O pior do fator previdenciário é a alíquota de contribuição

Estava lendo algumas reportagens e blogs sobre previdência pública quando decidi consultar a página do Ministério da Previdência sobre fator previdenciário. É uma fórmula simples e revoltante, mas não pelos motivos que se ouve pela internet afora.

Não vou discutir a fórmula em si, fácil de aplicar, mas uma variável em particular, a alíquota de contribuição. Na página do Ministério ela é de 31%, o que deve ser resultado da soma da alíquota do empregado (11%) com a do empregador (20%).

Então temos uma previdência em que é preciso contribuir com 31% do salário de contribuição (existe um limite superior para esse salário). Claro que alguém sempre vai dizer que contribui com apenas 11%, como se os 20% do empregador não poderia ir para o bolso dele se não fosse o desconto obrigatório.

Então uma pessoa cujo salário, por coincidência, é igual ao teto da previdência contribui para o “sistema de poupança pública” em 11% + 20% + 8% (pensou que eu ia esquecer do FGTS?) = 39%. Não coloquei aqui o imposto de renda, por não ir para poupança, e o adicional de 1% do FGTS, por não saber direito para onde vai (tenho uma idéia de para onde deveria ir). Chamei de sistema de poupança pública porque se fosse para usar tudo minha aposentadoria eu pegaria esse dinheiro e o pouparia.

Não é a toa que o brasileiro, mesmo o jovem, sem memória hiperinflacionária e instruído ainda não aprendeu a poupar. Nos primeiros anos de sua carreira, quando a grana ainda é curta, ele recebe uma mordida desse tamanho. Se poupasse ainda mais (12% é o número mágico para o piso) seu consumo seria de qualidade muito ruim (em relação ao esforço), por isso não passa por sua cabeça fazê-lo. Poderia estar recebendo quase 35% a mais (recebe R$89,00 pelos R$100,00 acordados quando deveria receber os R$120,00 trabalhados) e decidir sozinho o que fazer com essa diferença, mas nesse caso precisaria de boa educação para tomar as decisões certas.

Como melhorar a educação dá trabalho, é melhor manter a alíquota de contribuição bem alta, com ou sem fator previdenciário…

 

P.S. Para quem acha que os 28% do empregador nunca chegaria ao bolso do empregado, tem que se lembrar dos sindicatos. Sem a mamata das contribuições obrigatórias os sindicatos iriam lutar para isso acontecer e os empregados teriam que ser mais engajados e ativos na luta por renda (inclusive investindo ainda mais em educação ;-)).

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