O Parque Trianon é um pequeno pedaço do paraíso no meio de São Paulo, na mais urbana e cosmopolita das nossas avenidas. Em plena Avenida Paulista, esse pedaço da Mata Atlântica oferece paz e sombra para os trabalhadores da região e permite alguns minutos de sossego após o almoço. Era meu destino preferido quando trabalhei por lá em 2014, quando decidia comer sozinho e rápido para poder me sentar nos bancos do parque.
Aos domingos o Trianon fica cheio de casais apaixonados, famílias e grupos de amigos sorridentes. Não fica cheio como o Ibirapuera, pois a maioria das pessoas vai mesmo é para aproveitar a Avenida Paulista e os bares e restaurantes da região. Eu gosto é das aranhas. É isso, sem frescuras ou rodeios. Adoro ver as enormes aranhas que fazem teias que se esticam entre as árvores e arbustos. Algumas teias devem ter mais de três metros de comprimento e cruzam, pelo alto, o passeio dos transeuntes. Não entendo que tipo de mágica permite que as aranhas consigam fazer teias tão grandes, alcançando pontos que só um grande salto (falo de mais de metro) permitiria.
Em todas as vezes anteriores em que fui fotografar as aranhas tive problemas com os seguranças. É uma situação recorrente e conhecida, uma aversão às maquinas fotográficas grandes. Os seguranças dizem que não podemos tirar fotos profissionais sem licença e não aceitam o argumento de que não sou profissional. Já me pediram uma carteirinha que comprove que não sou profissional, como se alguém andasse com um documento que comprove que não é médico, advogado ou mecânico. Se semelhante ao usado por profissionais faz de você um profissional, deveríamos cobrar algo das pessoas que calçam chuteiras chiques para bater uma pelada. Estariam eles usando profissionalmente o campo de várzea?
Já reclamei sobre o assunto com a Secretaria do Verde e Meio Ambiente que concordou ser um absurdo barrar fotógrafos apenas pela inspeção visual da câmera. Contudo, a SVMA me disse que os seguranças não tem como fazer uma análise da situação e me deram uma autorização prévia para o final de semana seguinte. Alguns dias atrás procurei a página da autorização e não achei, até porque a Prefeitura de São Paulo apenas se preocupa, oficialmente, com quem quer alugar o espaço para fotos comerciais. Hoje acordei e fui ao parque fotografar, já esperando ser expulso em poucos minutos. Entrei com a máquina guardada e quando vi um monte de aranhas enormes em uma mesma teia tirei da bolsa e comecei a clicar. Ninguém me perturbou.
Passei uma ótima hora observando e clicando aranhas lindas. Conversei com um rapaz e seus dois filhos (um casal) que também clicava as aranhas usando seu celular. O garoto, um adolescente bem simpático, estava apavorado com o tamanho dos insetos e pedia para o pai ficar longe. Ele veio me perguntar se eu não estava com medo, porque estava perto de uma para fotografar. Eu virei para ele e disse que não achava que ela iria saltar e que mesmo que saltasse, ela estava atrás da teia. Não conseguiria me pegar em um salto. O garoto balançou a cabeça meio cético. O pai me perguntou se o parque era seguro e eu disse que sempre havia seguranças fazendo ronda e que na verdade era a primeira vez que entrava no parque e não via segurança algum. Não sei se mudou a política de uso do parque ou é apenas falta de pessoal. Fui embora imaginando o que faria caso um turista estrangeiro, falando alguma língua incompreensível, fosse pego fotografando.
Foi um ótimo dia, super quente e com muita música. Cliquei um conjunto de jazz bem legal e uma garotada tocando um samba. O almoço vegetariano na FNAC fechou o dia e voltei para casa para desmontar o ventilador de teto e mandar a parte eletrônica para manutenção.