O Carnaval 2017 foi bem agitado em São Paulo, com um recorde de pessoas nas ruas, muitos blocos, transporte público lotado e muita alegria. Tenho certeza que muitas pessoas voltaram para casa com os pés cansados e comigo não diferente. Meus pés precisavam de uma descanso depois de passar o carnaval na Serra da Bocaina. Nunca fui de agito, sou bem pacato e pela segunda vez resolvi ir para o meio do mato. Em 2016 conheci o Monte Roraima, mas dessa vez foi um acampamento no carpete. A Pousada Lajeado tem uma área legal de camping, chuveiro e estamos perto de muitas belezas naturais.
A aventura começa em Cachoeira Paulista, residência de nosso guia, Carlos Moura, e onde estava ocorrendo um desfile de carnaval. Podemos achar que uma cidade como essa, pequena mas onde há igrejas importantes, é bem conservadora e repressora, mas a quantidade de travestis puxando os blocos impressionou. O carnaval é pequeno, sem luxo, mas inclusivo. Ponto positivo. Na pousada onde dormi antes de ir à Serra da Bocaina conheci a dona e seu marido, cujos nomes já esqueci, e amigos deles. Tive horas de bom papo, regadas a milho cozido, diversos bolos e cafezinho. Aprendi mais alguma coisa sobre o trabalhador rural e empreendedorismo. Nem todos os donos de terra tem tratores, pois é um item caro e difícil de amortizar para um pequeno produtor. O marido da dona da pousada tem um trator e sua profissão é prestar serviço para esses produtores. Você agenda o serviço e ele vai lá para fazer colheita, arado e outras atividades.
No primeiro dia conhecemos a Pedra da Bacia, uma subida fácil e bem gostosa. A vista que temos do vale e da represa é deslumbrante. Resolvi não subir ao ponto mais alto porque escorregava bastante e não me senti confortável. Medo de altura é dose, mas só perdi uns três metros de aventura. Houve muita cantoria à noite e quando fui dormir estava garoando um pouco. Acordei com o povo que dormiu beeeeeem tarde dizendo que o tempo abriu de madrugada e a Via Láctea deu um oi para todos. Decidi que na noite seguinte a danadinha não me escapava.
O segundo dia foi um pouco mais puxado com a subida do Pico do Tira Chapéu, o ponto alto do lugar. O caminho alternou entre sombra da mata e campo aberto. O tempo abria e fechava, choveu e fez Sol. Deu para ver baile de nuvens, o que fez o povo já começar a marcar outras aventuras. A turma do angu resolveu almoçar na descida, pois havia risco de relâmpagos com a chuva que se formava. No final foi tudo tranquilo. Houve mais cantoria antes de dormir, mas não acompanhei o povo porque decidi acordar de madrugada para ver o céu. Lá pelas 2h ou 3h, não lembro ao certo o horário do despertador, acordei para o ver o céu cheio de… nuvens. Não passava um fóton sequer pelas nuvens. Fui dormir desapontado.
O terceiro dia foi só sossego, na cachoeira de Santo Izidro, uma queda d’água enorme com um grande lago de água fria. Chegamos cedo, quando só havia um rapaz lagartixando ao Sol e pudemos aproveitar bastante. O lago tem um grande banco de areia que permite avançar bem, mas com o cuidado de testar o fundo. Há muitas pedras onde a água continua a correr pelo rio e foi por onde passei. Nesse ponto, um pouco mais tarde, um senhor começou a fazer alguns totens.
Não poderia deixar de comentar que o grupo da viagem se fala até hoje. Gente fantástica que espero ver outras vezes. Dessa vez eu vi o lobo guará, que foi nos visitar na pousada. Ele é grande e parece até uma hiena. Não tem foto porque minha câmera estavam muito longe quando apareceu. Se soubesse que iria ficar tanto tempo teria ido à barraca buscá-la. O lobo não é nativo da região, está sendo expulso do serrado pelo desmatamento. Uma pena que o encontro com ele tenha sido por esse motivo, mas ainda assim foi um prazer conhecê-lo. Agora é torcer para o tempo firmar para as próximas subidas.